quinta-feira, 27 de novembro de 2008

DE MULHER PARA MULHER: AVÓ E NETA CONVERSAM

Numa tarde primaveril avó e neta, confortavelmente instaladas na varanda da casa, como sempre, conversavam. De repente, a menina olhou para a avó, com ar de surpresa, ao ouvir:
- Você e sua irmãzinha nasceram numa época bem melhor do que a minha e a das mulheres que me antecederam!
O interesse da neta, tão visível, impulsionou a avó a seguir nas suas cogitações.
- Pois é! Antigamente o nascimento de uma menina gerava, na maioria das vezes, certo desapontamento por parte do pai e, conseqüentemente, tristeza da mãe por não ter dado ao marido o filho desejado. Um menino perpetuaria o nome e os negócios da família, poderia fazer uma bela carreira... Pior ainda: era bastante comum os homens culparem a mulher pela geração de meninas. Mal sabiam eles, ignorantes da genética, que eram eles que determinavam o sexo da criança!
- Nossa! Meu pai é tão bacana! Está tão contente com seu novo bebê! Toda noite vai para o meu quarto e lê para mim até meu sono chegar.
- Seu pai é um homem moderno, sem preconceitos. Foi com esses valores que eu o eduquei. Você freqüenta escola desde muito pequena, certamente fará um curso superior, votará, poderá candidatar-se a cargos públicos, tornar-se economicamente independente, escolherá seu companheiro de vida sem nenhuma pressão familiar. Todas essas coisas, aparentemente naturais, foram conseguidas com muita luta. Não acreditavam que as mulheres tivessem o necessário discernimento para opinar sobre questões sociais, políticas e científicas. Elas eram tidas como cidadãs de segunda classe. Elas deviam viver para os outros e ninguém se preocupava com seus anseios.
- Minha mãe é advogada e trabalha muito. Ela faz tudo bem feito.
- Ela é uma ótima profissional e é reconhecida como tal. Isso é coisa de agora, mas nem sempre foi assim. No final do século XIX uma lei permitiu que as mulheres tivessem acesso ao ensino superior. Elas logo se candidataram aos cursos de medicina e de direito. Entretanto, colegas e professores, a sociedade e até mesmo a família não viram com bons olhos essa novidade. As jovens faziam o curso de Direito e os Tribunais não as aceitavam e, muito menos, o Instituto dos Advogados do Brasil. Muitas acabavam desistindo e se refugiavam no magistério que era uma profissão que os homens achavam aceitável para as mulheres. A sorte é que algumas tinham garra e se dispunham a lutar contra essa discriminação.
- Mas, por que não queriam que elas advogassem?
- Tanto a Igreja como o Instituto dos Advogados achavam que a mulher que trabalhava fora não cuidava direito da família e isso era uma perigo. Sendo muito emotivas não teriam condições de bem julgar as demandas. Também existia uma lei que dizia que elas precisavam de autorização marital para o exercício da profissão. Logo, elas não tinham independência uma vez que, a qualquer hora, o marido poderia proibi-la de trabalhar. Para derrubar esses absurdos não foi nada fácil. Foi preciso muita persistência e isso elas tiveram!
- Ah! Minha professora outro dia disse que o Brasil é um pais novo e por isso não é adiantado como outros que são antigos.
- Ela está, em parte, certa. Entretanto, o atraso com relação a mulher não acontecia só aqui. Era comum no resto do mundo e até hoje, em alguns paises, essa situação de colocar a mulher como um ser inferior ainda persiste. Na primeira metade do século XIX uma brasileira, Nísia Floresta, com apenas vinte e dois anos, escreveu um livro denunciando esse estado de coisa. Ela já havia abandonado o marido que lhe fora imposto aos 13 anos de idade e por causa disso precisou sair de sua cidade natal para evitar maledicências. Passou a escrever artigos para um jornal sobre a situação da mulher em diversos lugares do mundo. Nessa ocasião leu um livro que uma inglesa escrevera sobre esse tema e, encantada, resolveu traduzi-lo e adapta-lo à realidade brasileira. Foi um escândalo! Um dia você vai conhecer melhor a história dessa mulher e a sua luta para que vocês hoje pudessem freqüentar uma escola que não fizesse diferenciação entre meninos e meninas. Antigamente muitos pais não permitiam que as filhas estudassem. Aprendiam apenas prendas domésticas.
- O que é isso?
- Fazer os serviços da casa, bordar, costurar, dirigir as empregadas... Os mais velhos achavam que as meninas que aprendiam a ler e gostavam dos livros não iam conseguir casamento. Segundo eles, “Homens não gostam de mulheres letradas”. Foi o que sempre Cora Coralina ouviu na sua juventude.
- Credo! O que aconteceu com ela?
- Encontrou quem gostasse dela embora não a estimulasse a escrever. Assim mesmo, ela conseguiu formar sua família e, embora tardiamente, conseguiu ser conhecida e premiada como uma excelente poeta. Viúva, pobre e com muitos filhos precisava trabalhar muito para garantir o sustento da família. Fazia e vendia doces e, por incrível que pareça, junto do fogão, fazia versos e os registrava em qualquer pedaço de papel. Quando sobrava um tempinho, ela os transcrevia num caderno.
- Que bonito! Você falou que as mulheres de antigamente não escolhiam seu parceiro de vida. Elas não namoravam? Com você também foi assim?
- Eu e minha mãe tivemos sorte nesse aspecto. Ela precisou se impor, fazer valer a sua escolha, mas eu não. A experiência materna me deu liberdade para namorar quem eu quisesse. Antigamente os pais de meninas com treze anos já tratavam de lhes arranjar casamento e, de preferência, alguém que trouxesse alguma vantagem para a família. Não importava a idade do pretendente e nem o seu grau de parentesco. Se fosse rico ou influente na política, melhor. Ninguém consultava a menina. A vontade dela não era levada em conta.
- Que horror! Elas concordavam com isso?
- A maioria, infelizmente, sim. Havia outras, entretanto, que se revoltavam e não aceitavam a imposição. Outras, depois de casadas, abandonavam o marido e partiam em busca de seus anseios. Foi o caso da Chiquinha Gonzaga. Lembra-se da música “Abre alas” que ouvimos outro dia? Foi ela quem compôs. Anita Garibaldi, chamada de Heroína de Dois Mundos, também foi vitima de um casamento sem nenhuma afinidade. Tal como Chiquinha, também não se conformou com a vida insossa que não fora de sua escolha e, indiferente ao que os outros pensavam, abandonou o lar. Só depois de muito tempo é que elas foram reconhecidas e tidas como grandes mulheres. No seu tempo, foram difamadas e desprestigiadas.
- Puxa! Quero conhecer a história dessas mulheres valentes! Nunca pensei que elas tivessem precisado brigar tanto.
- Pois é, hoje temos mulheres ocupando os mais variados cargos com muita eficiência e desenvoltura. Mas é preciso lembrar quantas mulheres enfrentaram o preconceito, romperam os grilhões que as cerceavam e abriram caminhos para que outras, futuramente, os trilhassem sem tropeços.
- Sou mesmo “sortuda”. Não vou precisar lutar. Elas já fizeram o que devia ser feito!
- Engano seu, minha querida! Ganhamos muito espaço, mas não o suficiente. Ainda muitas mulheres estão acomodadas, são dependentes e aceitam ser tratadas como “mulheres objeto”. Outras, lutadoras, embora tenham mais escolaridade, ganham menos que os homens e quando pleiteiam cargos relevantes, em igualdade de condições com os homens, acabam sendo preteridas. Vocês que estão se preparando para o mercado de trabalho é que terão de conquistar esse espaço. Afinal, a metade da população do mundo é formada por mulheres e não se pode desperdiçar o talento delas. Com essa contribuição, certamente, o mundo se tornará melhor.
- O que eu posso fazer para que isso aconteça?
- Estudar, procurar conhecer melhor o esforço dessas mulheres para conquistar o espaço que atualmente ocupamos tão naturalmente. Hoje já existe muito estudo sobre o que elas fizeram, ao contrário dos tempos antigos onde, achando que a contribuição delas era irrisória, não costumavam registrar suas atividades. Mas tudo isso é pouco divulgado. O povo geralmente não conhece a história delas. Quer um exemplo? Onde você mora?
- Ah! Você sabe, na rua Francisca Julia!
- Muito bem. Será que algum morador dessa rua sabe quem foi Francisca Júlia? Experimente fazer essa pergunta para os seus vizinhos do prédio e depois me conte. É normal que você ainda não saiba e, por isso, pegue aquele dicionário da segunda prateleira e procure em SILVA, Francisca Julia da. Isso. Agora leia para mim.
- “Francisca Julia da Silva – (1874 – 1920) - Nasceu em Xiririca (SP), atual Eldorado. Colaborou em diversos jornais de São Paulo. Estreou anonimamente com versos magníficos a ponto dos editores duvidarem que uma mulher os tivesse escrito. Nos seus versos condensava uma expressão de arte diferente do seu sexo; plasmou-os em forma e sentimento à semelhança dos mais perfeitos poetas parnasianos, ombreando-se com Raimundo Correia, Olavo Bilac, Alberto de Oliveira e tantos outros valores de sua época. Escreveu diversos livros ...”
- Agora você sabe onde achar informações sobre muitas delas. Hoje seus nomes servem apenas para designar hospitais, escolas, ruas e praças ... As pessoas não sabem o que elas fizeram para serem assim homenageadas.
- Legal! O dicionário traz um retrato dela. Era uma mulher muito bonita! Depois vou acabar de ler o restante do texto.
- Que bom que você gostou. Por isso, minha querida, seja sempre corajosa e lute por seus direitos. Nada de comodismo! Acredite nos seus anseios e, se preciso for, enfrente qualquer situação.
- Estou pensando e, sabe vovó, um dia vou contar pra minha irmã toda essa nossa conversa. Gostei muito! E, acredito, ela também vai gostar.
A avó sorriu. Afinal, não só ganhara uma nova defensora dos direitos femininos, mas também uma eficiente multiplicadora dessas idéias!

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

A poesia que me encantou nos meus verdes anos...

Rima XXIV
G. Becquer

Dos rojas lenguas de fuego
Que a un mismo tronco enlazadas
Se aproximan, y al besarse
Forman una sola llama.

Dos notas que del laúd
A un tiempo la mano arranca,
Y en espacio se encuentran
Y armoniosas se abrazan,

Dos olas que vienen juntas
A morir sobre una playa
Y que al romper se coronan
Con un penacho de plata,

Dos jirones de vapor
Que del lago se levantan
Y al reunirse en el cielo
Forman una nube blanca,

Dos ideas que al par brotan,
Dos besos que a un tiempo estallan,
Dos ecos que se confunden,
Eso son nuestras dos almas.


Encantei-me com essa poesia quando cursava o colegial nos idos de 1943. Depois, a perdi de vista . Estive sempre a sua procura e, em 98, Diane, minha neta, me enviou uma porção de poesias de Becquer.No meio de tantas Rimas, lá estava ela. Não é mesmo linda? H.

sexta-feira, 14 de novembro de 2008

Só rindo...

Só rindo


Há situações que exigem, de todos, uma atitude sóbria. Mas, geralmente, não é o que sempre acontece. Quem já foi a um velório sabe bem disso. De repente o riso surge e é preciso muito esforço para contê-lo. Foi o que me aconteceu por ocasião do falecimento de um amigo. Eu e mais duas pessoas estávamos, em silêncio, numa saleta onde serviam café, chá e bolachas. Nisto entrou uma senhora, dessas que não conseguem ficar caladas, e começou a fazer uns comentários:
- Qual está melhor? O café ou o chá ?
Não esperou resposta e continuou falando.
- Pois é, condenam tanto o café, dizem que faz mal para saúde e que é melhor tomar chá. Ora, o chá tem mais CAFETINA que o café…
Sair rápido da saleta parecia a melhor solução, mas como não entrar sorrindo no velório?

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Excertos do livro Elas, as pioneiras do Brasil- Parte 2

Qual delas você gostaria de conhecer?
Brasil Colônia ..................................................................................................................7
A mulher brasileira no período colonial.........................................................................9
As precursoras das precursoras. .................................................................................15
Madalena Caramuru – a primeira mulher letrada do Brasil....................................16
Comandantes de Capitanias hereditárias: ..................................................................18
Ana Pimentel – “capitoa” de São Vicente.................................. .................................19
Brites Mendes de Albuquerque – “capitoa” da Nova Luzitania ..............................20
Luiza Grimaldi – “capitoa” do Espírito Santo........................... .................................21
Inês de Souza – “capitoa” do Rio de Janeiro, uma hábil estrategista -..................22
Vítimas da Inquisição.....................................................................................................23
Branca Dias –..................................................................................................................23
Lourença Coutinho - .....................................................................................................26
As escritoras...................................................................................................................30
Teresa Margarida da Silva e Orta –1ª romancista brasileira?...............................30
Ângela do A. Rangel – a primeira poeta com obra editada......................................32
Bárbara Heliodora – a heroína da Inconfidência.......................................................34
De escrava a mulher de prestigio................................................................................38
Chica da Silva – uma mulher determinada................................................................38
Sóror Joana Angélica – símbolo da resistência brasileira ao domínio português........................................................................................................................41
O Brasil Imperial............................................................................................................43
A mulher brasileira no período imperial.....................................................................43
· Maria Quitéria, a mulher soldado.......................................................................51
· Imperatriz Leopoldina – A verdadeira heroína da Independência do Brasil.................................................................................................................................56
· Marquesa de Santos – A mulher que abalou um reinado............................. 60
· Nísia Floresta – A pioneira do feminismo no Brasil.........................................63
· Anita Garibaldi – A heroína de dois mundos....................................................71
· Luisa Mahin – Ativa participante nas rebeliões de escravos.........................75
· Luisa M. Portugal.de Barros – Condessa de Barral – Preceptora das
Princesas do Brasil ........................................................................................................78
· Princesa Isabel, a Redentora .................................................................. ..........82
· Maria Firmina dos Reis – A mestra-régia do Maranhão ...............................90
· Ana Justina Ferreira Néri – A primeira profissional de enfermagem do Brasil ................................................................................................................................93
· Luciana de Abreu – Defensora dos direitos femininos à educação superior ...........................................................................................................................96
· Maria Angélica Ribeiro – A primeira teatróloga do Brasil ............................ 99
· Chiquinha Gonzaga – A primeira maestrina brasileira ................................102
· Maria Benedita C. Borman – Precursora das campanhas de Educação
Sexual da mulher .................................................................................. ..................... 106
· Narcisa A. de Oliveira Campos – Primeira jornalista profissional do Brasil .................................................................................................... .........................109
· Eufrasia Teixeira Pinto – Primeira mulher a investir em ações ..................113
· Maria Augusta G. Estrela – Primeira médica brasileira formada no exterior ..........................................................................................................................121
· Julia Lopes de Almeida – Uma mulher de múltiplos interesses............... ..127
· Rita Lobato Velho Lopes - Primeira médica brasileira formada no Brasil...............................................................................................................................131

segunda-feira, 8 de setembro de 2008

Excertos do livro Elas, as pioneiras do Brasil - parte 1

Critérios para a escolha de “quem é quem”

“Não se nasce mulher: torna-se mulher.”
Simone Beauvoir

Este livro não é um dicionário e, portanto, não pretende tentar escrever sobre o maior número de mulheres que se destacaram na História do Brasil. Também não é um livro para especialistas e sim para o grande público. Pretendo destacar sessenta mulheres, das mais variadas atividades e mostrar como se tornaram pioneiras nas suas especialidades. Para que isso acontecesse tiveram de lutar muito, enfrentar preconceitos e abrir caminhos para outras gerações. Compreenderam que sendo a metade da população, não podiam ficar à margem dos acontecimentos. Elas precisavam ampliar seus espaços, defender seus direitos e derrubar preconceitos. Perceberam que chegara a hora de darem um basta à atitude discriminatória de que eram vítimas e não mais continuarem cúmplices desse status quo.
E muitas se dispuseram a essa empreitada!
Na fase colonial, tão reprimidas, sem escolas, analfabetas, poucas puderam tentar levantar a voz. Assim mesmo, elas participaram do desenrolar de nossa história, embora pouco se tenha registrado sobre seus feitos. Foi uma ação eficaz, mas silenciosa.
No período imperial a situação começou timidamente a mudar com a liberação legal de freqüentar escolas. O advento da imprensa no país lhes deu a oportunidade de começarem a expressar suas idéias, embora com muitas restrições. As escritoras e poetas gradativamente foram invadindo setores antes redutos masculinos e opinaram sobre questões políticas e sociais. Tornaram-se professoras e no final do século XIX conseguiram educação de nível superior, apesar da resistência masculina.
No período republicano seu campo de ação alargou-se: médicas, advogadas, aviadoras, pianistas, pesquisadoras ao lado do crescente número
de escritoras e poetas. Ganharam o direito ao voto, passaram a advogar mais direitos...
Como selecioná-las para fazerem parte deste livro? Era necessário estabelecer critérios para escolher as sessenta. Gradativamente, eles foram surgindo:

Apenas as pioneiras que não mais estão entre nós;
As que, por sua especialidade, não são conhecidas pelo público, como acontece com as pesquisadoras;
As que, muito atuantes em outras épocas, tendo contribuído significativamente para o desenvolvimento do Brasil, abrindo caminho para a participação de outras mulheres, são hoje nomes de ruas, praças, escolas, hospitais, embora a maioria das pessoas não saiba o que elas fizeram para receber essa homenagem;
Aquelas que têm os acontecimentos de suas vidas misturados com lendas, suas histórias são oferecidas ao público de maneira distorcida ou são localizadas num só espaço de tempo em detrimento de sua real personalidade;
Há também aquelas que serviram de tema a teses de mestrado ou doutorado e acabaram tendo suas biografias publicadas em livros destinados a especialistas e, muitas vezes, fora do alcance do público em geral.
Isto posto, nova dificuldade. Ainda eram tantas que não caberiam no número estipulado, isto é, sessenta!
Quais, então, deveriam ser excluídas?
As que, embora falecidas, continuavam na lembrança do grande publico. As escritoras, especialmente, escreviam em jornais, participavam de bienais, eram entrevistadas e, portanto, ainda estavam em evidência. Delas se dispunha de mais elementos para elaborar uma biografia, mas deviam ser descartadas. Já existem dicionários arrolando um grande número delas;
Como decidir quando havia diversas personalidades, da mesma especialidade, igualmente interessantes? Nesse caso, o jeito foi optar por uma ou duas, aleatoriamente.
Bem, a decisão já foi tomada. Infelizmente, algumas ficaram à margem. O papel deste livro é, de certo modo, o de uma ficha remissiva, isto é, mostrar ao leitor o pioneirismo dessas mulheres e despertar nele o interesse em conhecê-las melhor. A bibliografia apresentada é pista para tanto.

sexta-feira, 22 de agosto de 2008

VELHICE
Não se preocupe com as distinções que fazem
entre idoso e velho. Não passa de um preciosismo como tantos outros.

Quando a velhice se aproximar, dê-lhe boas-vindas.
Ela é um bem que nem todas as pessoas conseguem alcançar. Daí o seu caráter precioso que merece um cuidado especial para que se possa dela usufruir na sua plenitude.
Quando ela se instala é inexorável! Ai daquele que a tratar com displicência!
Ela demanda uma certa preparação e também a disposição de aceitá-la como época de colheita, de disponibilidade para a descoberta de aptidões até então desconhecidas.
Lembre-se dos muitos caminhos sondados na sua juventude. Muitos deles eram extremamente atraentes, mas não lhe garantiriam a independência econômica tão desejada e necessária nessa fase da vida. Por isso, foram abandonados. Na maturidade, para ter status e respeitabilidade na sua profissão, você optou por uma especialização. Não bastava ser bom na sua profissão. Precisava ser ótimo! Com isso, o restante do seu potencial foi apenas arranhado, só superficialmente explorado.
É na Terceira Idade que pode se dar ao luxo de “borboletear”, experimentar... Que tal voltar a estudar? Já pensou no desafio que é prestar um novo vestibular? De enveredar por algum ramo da arte? Escrever? Pesquisar? A Informática está aí acenando um mundo de possibilidades. Aventure-se!
Você está livre para dispor do seu tempo e dinheiro. Os filhos criados já se bastam. O seu compromisso é manter-se saudável. Os cuidados com a saúde são essenciais. Já os antigos apregoavam: “mens sana in corpore sano”. Programe-se. Faça caminhadas, alimente-se adequadamente, esteja atento para qualquer sintoma que fuja a norma, alargue seu círculo de amizades, participe das atividades da família...
AH! Se tiver netos desfrute da companhia d eles, mas tenha sempre presente que os tempos são outros... Esse convívio será bom. É uma oportunidade impar para você transmitir coisas boas de seu tempo e que estão desaparecendo... Devolva à criança de hoje a riqueza de de uma verdadeira infância. Contar, inventar histórias para os netos é simplesmente maravilhoso. Pode-se dar a eles a possibilidade de imaginar a história a seu modo, desenvolvendo sua capacidade criativa. Dê-lhes a oportunidade de cada um ter a sua Cinderela, de acordo com as suas preferências. Não será aquela que os “enlatados” lhe ofereceram, igualzinha a de todo o mundo. Esse relacionamento será encantador para ambos os lados... Experimente!
A preocupação em manter-se atualizado, a busca em compreender as constantes mudanças do mundo, faz do velho um moço. Tenha uma atitude positiva e não se lamurie pelo que já passou e nem pelos problemas que surgem. Enfrente-os e viva!
Só assim a velhice se tornará rica e prazenteira.

Menção honrosa - Concurso de crônicas e contos - Folha do Servidor Público - 1997

quinta-feira, 14 de agosto de 2008

Sonhar é preciso – parte 2

Fernando se sentia encurralado. Não sabia o que fazer. Lembrou-se das mulheres da História que não geravam homens... Pôs-se no lugar delas e vivenciou toda a angústia que essas infelizes, certamente, teriam sentido. Só que elas não tinham mesmo nenhuma culpa. Muitas delas viveram antes do nascimento da Genética. Mas, mesmo depois do surgimento dessa ciência, muitos maridos continuaram ignorando que eram eles que não forneciam o elemento Y responsável pela geração de um macho. A culpa era toda deles e não delas. De qualquer maneira, a vítima nesses casos foi sempre a mulher.
Agora a situação era outra. A acusação de Irene era procedente. Era ele que só fornecia o elemento Y e não o X que ela queria... Também, por que se casara com uma especialista em Genética? Mas, por outro lado, justamente por causa de sua profissão ela não deveria culpá-lo. Não dependia da vontade dele...
Acordou transpirando, angustiado. Como Freud explicaria essa confusão? Nem era bom pensar. Ainda bem, fora apenas um sonho!
Levantou-se e, enquanto se preparava para ir encontrar Irene no aeroporto, ria de seu sonho maluco. Três moleques! Nunca pensara nisso. Ele e Irene eram jovens, tinham ainda muito o que fazer: estudar, trabalhar, viajar e, principalmente, partilhar a vida a dois. Depois, viriam as crianças.
Bem, o melhor era deixar de lado o sonho e ir direto encontrar-se com Irene. Depois de 3 meses só ouvindo a voz dela pelo telefone ou Internet iria agora desfrutar de sua companhia todos os dias. Era a gloria! Para que ficar pensando nesse sonho extravagante, quase um pesadelo?
O encontro teve aquele encantamento que só os enamorados conhecem. Muitos beijos e abraços e, por fim, as novidades.
Fernando lhe contou o sonho e ambos riram muito. A alegria foi maior ainda quando Irene comunicou que estava grávida. Não contara antes porque não queria preocupá-lo. Ao mesmo tempo, era um acontecimento tão maravilhoso que bem merecia ser comunicado pessoalmente.
- É um menino, disse ela. Não fique preocupado, Fernando, pois ainda podemos ter mais dois garotos antes que eu me rebele. Até lá, talvez, a Genética esteja em condições de nos orientar na escolha do sexo do nosso quarto bebê.
Abraçados lá se foram os dois, felizes e cheios de esperanças.
Um novo sonho se delineava...

terça-feira, 12 de agosto de 2008

Sonhar é preciso – parte 1

Há três meses Fernando estava nos Estados Unidos fazendo um curso de pós-graduação em História. Depois de muito estudo tinha conseguido essa oportunidade tão desejada.
Enquanto se preparava para realizar seu sonho, um outro surgiu de um modo avassalador: reencontrou uma antiga namorada, sua paixão na adolescência. Não é preciso dizer mais nada. O casamento aconteceu. Uma coisa, entretanto, não saíra a contento. Irene tinha um compromisso que só a liberaria dentro de alguns meses. Assim mesmo resolveram se casar antes dele partir.
Fernando viajou sozinho logo depois da lua-de-mel.
Agora estava ansioso. Irene chegaria no dia seguinte. Sem sono resolveu ler. Pegou uma revista e depois de folheá-la optou por um artigo, de certo modo, ligado a sua especialidade: “A mulher noutros tempos”. Vira sempre a situação da mulher através da História de um modo fragmentado: Reis que repudiavam suas esposas e, à vezes, a condenavam a morte por não gerarem varões, utilização de cintos de castidade, mutilações genitais, discussões sobre se elas teriam ou não alma... Nesse artigo, entretanto, todas essas barbaridades apareciam de uma só vez mostrando todo o sofrimento dessa metade da população do mundo. Não era à toa que muitas mulheres se insurgiram formando movimentos reivindicatórios...
Cansado, Fernando acabou dormindo. Foi um sono agitado. Sonhou que estava numa casa grande, com a mulher e três irrequietos garotos. O ambiente parecia hostil e sua mulher estava muito zangada. Era difícil reconhecer a suave Irene nessa mulher insatisfeita. Por que estaria ela tão agressiva?
Com espanto, Fernando percebeu que era ele a razão desse descontentamento. Vinha ela agora com aquela história de que a culpa era dele de só terem varões. Ela queria, porque queria, uma menina!

Continua...

segunda-feira, 11 de agosto de 2008

PROFESSOR: VALE A PENA SER? – parte 2

Ora, como permitir que isso aconteça quando temos o privilégio de ter nas mãos a possibilidade de participar efetivamente na construção de um mundo melhor? Não, não é exagero!
Quem melhor que o professor pode contribuir para “fazer cabeças bem feitas ao invés de cabeças cheias ” ? É ele que pode incentivar a crítica e a auto-critica nos seus alunos levando-os à lucidez e compreensão e, de modo mais amplo, a mobilização de todas as aptidões humanas. Estaria aí um caminho para se viver melhor.
Vivemos uma época de incertezas num mundo em constante mudança. Novamente é o professor que pode fazer a convergência de diversos ensinamentos, mobilizando várias ciências e disciplinas para enfrentar essas incertezas. É ele ainda que pode incentivar seus alunos a aceitarem com fé e esperança todos esses desafios.
Todas essas cogitações voltadas para o aprendizado da vida e para a consciência da condição humana, resultantes de uma filosofia de vida, devem estar presentes na missão de ensinar.
Há ainda um outro aspecto a ser salientado. Não é só o aluno o beneficiado quando o professor se empenha em ensina-lo a viver. O professor também aprende... Se o bom aluno é uma recompensa, o difícil é um desafio que nos impulsiona a analisar nossa atuação e buscar, em nós mesmos, a razão dessa indiferença. As palavras de Paul Valery ilustram bem essa situação: “Todas as atividades do espírito cessariam se os jovens ficassem, um dia, contentes com o que existe.” Então, por que não oferecer ao jovem inconformado uma nova abordagem do que ensinamos e, com ele, também crescer?
Daí a minha crença: Vale a pena ser professor!

terça-feira, 5 de agosto de 2008

PROFESSOR: VALE A PENA SER? – parte 1

Ser professor... Para uns é maravilhoso! Para outros, nem tanto. Por quê?
Ser professor não é uma tarefa fácil. Exige qualidades que nem todos possuem e sacrifícios que muitos não estão dispostos a fazer. Bem ou mal preparados, jovens põem-se a ensinar e aí começa o encantamento ou a desilusão por esse mister.
Lecionei durante 33 anos e há tempos estou aposentada. Conheci todas as dificuldades inerentes a esse trabalho. E não foram poucas. Mesmo assim, todos os obstáculos iam se transformando em desafios. Eram convites para ultrapassa-los e, uma vez isso feito, novas facetas iam surgindo me impulsionando para “ir além”...
Os conhecimentos adquiridos na minha formação para o magistério constantemente precisavam ser revistos, ampliados, reformulados e, algumas vezes, substituídos. Afinal, não se pode ter a pretensão de sair de um curso “pronto e acabado como Minerva da cabeça de Júpiter”. A preocupação em adequar meus conhecimentos com a realidade sempre esteve presente no meu dia-a-dia. Mesmo depois de aposentada procurei atualizar-me e analisar criticamente a minha atuação enquanto lecionava. Muitas coisas, hoje, eu poderia fazer melhor...
Sempre soube que para conseguir um bom resultado não bastava transmitir conhecimentos, só especializar-me e fazer carreira. Todas estas atividades eram simplesmente reducionistas para alguém que se propunha ensinar. Era algo mais amplo. Era uma missão de transmissão que exigia competência, técnica e arte.
Quando Platão dizia que “Educar é dar ao corpo e a alma toda beleza e perfeição de que são suscetíveis” chamava atenção para um requisito essencial para que isso acontecesse: o eros, que é a um só tempo, desejo, prazer e amor; desejo e prazer de transmitir, amor pelo conhecimento e amor pelos alunos. Na sua ausência, os professores ficarão infelizes e os alunos entediados...
Continua....

sexta-feira, 1 de agosto de 2008

Livros na Bienal

Livros de minha autoria estarão na Bienal no estande do Grupo Editorial Scortecci (Av.1 Ruas C/D). São eles:

  • Titulo: Elas, as pioneiras do Brasil - A memoravel saga dessas mulheres
    Autora: Hebe C. Boa-Viagem A. Costa
    Editora Scortecci - São Paulo - 2005
    440 pags. R$35,00

    A Historia do Brasil narrada a partir de mulheres
    Um jeito peculiar de narrar a Historia do país a partir da biografia de 60 mulheres que se destacaram no decorrer dos 500 anos do Brasil, desde a sua descoberta. A autora relata a luta de mulheres pioneiras para alargar o seu espaço na sociedade, em diversos setores. Do papel secundário, a mercê da vontade masculina e considerada cidadã de segunda categoria, até sua emancipação , as mulheres seguiram por árduos e difíceis caminhos, que podem ser acompanhados neste livro. Nas palavras de Simone Beauvoir: Foi pelo trabalho que a mulher transpôs, em grande parte, a distancia que a separava do macho; e só o trabalho pode garantir-lhe uma liberdade concreta.

  • Titulo: Enfermeiras do Brasil
    Autoras: Secaf, Victoria e Costa, H. Boa-Viagem A.
    Editora Martinari São Paulo - 2007
    Páginas – 184 Preço: R$35,00

    Enfrentar um novo desafio foi a meta das autoras (com formação diversificada) ao tentar colocar num pequeno número de páginas a rica história de vida destas enfermeiras e os fatos principais do seu pioneirismo na profissão e na saúde do Brasil.
    Dar destaque apenas a quinze personagens de uma profissão nem sempre reconhecida e valorizada foi uma tarefa árdua, pois muitos aspectos mereciam dar outros enfoques. Além disso, é sabido que outras enfermeiras e deveriam ser incluídas.
    Este livro mostra o inicio da caminhada: a história destas enfermeiras faz conhecer a profissão e a luta desenvolvida por elas na construção da enfermagem brasileira quanto ao ensino e exercício da profissão, vida associativa, divulgação através de revista e legislação específica.
    O objetivo foi despertar o interesse pelo tema e, para você, aluno, profissional ou docente de enfermagem, certamente a leitura deste livro irá ampliar suas perspectivas e proporcionar novos estudos sobre a profissão.
  • Titulo: Pois é... Cada um na sua!!!
    Autora_ Hebe C. Boa-Viagem A. Costa
    Editora – Rideel - São Paulo - 2002
    Páginas – 22 Preço – R$16,00

    Este livro, além de servir de forma lúdica como reforço no aprendizado de Ciências, tem como objetivo levar a criança a avaliar o seu autoconceito. Aborda o problema da identidade que envolve perguntas do tipo: Quem sou eu? Nasci do jeito que sou ou me tornei assim? O que me torna diferente das outras pessoas? Por que me comporto assim? Gosto ou não gosto da minha maneira de ser?
    A criança, ser ativo do ponto de vista cognitivo, capaz de estabelecer relações e construir conhecimentos, já fez comparações com outras crianças e formulou seu autoconceito.
    Através dos personagens da estória ela perceberá as diferenças individuais, aquilo que pode e o que não pode ser mudado na maneira de ser de cada um. Essa percepção permitirá que ela aceite o que lhe é próprio e a leve a desenvolver plenamente o seu potencial. Será, assim, estimulada a “ir além”, a buscar a excelência. Mudará o seu autoconceito para melhor e terá maior chance de ajustar-se num mundo tão cheio de diferenças.
    A sua leitura feita junto com um adulto será muito mais rica pois haverá possibilidade da troca de idéias, de dirimir dúvidas. Será também, para os dois, uma tarefa prazerosa.

  • Titulo: Ah! Essas crianças...
    Autora – Hebe C. Boa-Viagem A. Costa
    Editora Scortecci – São Paulo, 2008
    50 páginas
    Preço R$28,00

    São quatro pequenas histórias que retratam o dia-a-dia da criança no afã de compreender o mundo que a cerca . As novas experiências que alargam ou limitam seus desejos, que satisfazem sua curiosidade são muito significativas.
    “Surpresa”, “Pote ou geléia?”, “Cadê o mau humor da pintora?” e “O batizado” são registros singelos desse constante aprendizado.


terça-feira, 29 de julho de 2008

OSSOS DO OFÍCIO

Mesmo nas grandes instituições acontecem coisas inusitadas. Pouco antes das empresas se informatizarem a chegada de um chefe de seção provocou a maior confusão no setor de cadastramento.
Querendo mostrar serviço e inovar o recém-chegado, de plano, implicou com a irregularidade do tamanho das fichas do arquivo. Para deixar tudo com bom aspecto determinou que todas as fichas, dai por diante, deveriam ter o mesmo tamanho. Quanto as antigas, não teve dúvidas, mandou que o contínuo cortasse as partes que excedessem ao modelo padrão. A ordem foi executada cabalmente, sem nenhum critério.
Nasceu assim o arquivo intitulado “MULA SEM CABEÇA”. As fichas tinham todos os dados, menos o nome do cliente.

segunda-feira, 28 de julho de 2008

MEMÓRIAS DE UMA PARTEIRA – parte 4

Sempre fui uma pessoa de riso fácil e ter que reprimi-lo me custava muito esforço. Ponha-se no meu lugar ante uma cena assim: Uma mulher em trabalho de parto, gemendo e, nesse sufoco, com um chapéu de homem enterrado na cabeça acreditando que com essa "simpatia" a criança nasceria logo, sem problemas...
Muitas mulheres se revoltavam na hora do parto e furiosas agrediam com palavras o marido. Por culpa deles é que estavam sofrendo tanto. Uma vez uma dessas parturientes, revoltada, procurava os chinelos porque queria levantar-se e se matar... Tive que lembrá-la que era melhor ir descalça. Assim pegaria uma pneumonia e o problema estaria resolvido. Mas o melhor seria que ela cooperasse e não ficasse se lamuriando. Até os animais diante dessa situação se acomodavam. A mulher percebeu o absurdo do seu comportamento, aquietou-se e logo depois a criança nasceu. Enternecida, com o filho nos braços, sorria. Pensei: Daqui a um ano, quando muito, novamente estarei aqui!
Alguns maridos se mostravam solidários com o sofrimento de suas mulheres e procuravam ajudá-las a seu modo.
Eis um caso que, mesmo depois de passar uma noite acordada, sem nenhum conforto, cheguei em casa rindo. Meus familiares ficaram curiosos com esse acesso de bom - humor. Contei o que acontecera. Durante o parto escutei um barulho esquisito: correria e falatório em volta da casa. Espiei pela janela e vi uma cena estranha. O "futuro papai", arreado como um cavalo, corria em volta da casa e um outro homem o chicoteava sem piedade. Ante meu espanto, a sogra da parturiente esclareceu:
- Meu filho está ajudando a mulher parir sem que ela sofra muito, dona.
Pois é, sem anestesia, era assim que os partos aconteciam...
Não é mesmo para dar saudade? Ao fazer essa retrospectiva não pude deixar de comparar todos esses acontecimentos com os que ocorrem agora. Quantas modificações!
As mulheres têm acesso a educação, estão se politizando e ganhando um lugar ao sol. Elas dispõem de acompanhamento médico desde que engravidam, fazem cursos para melhor entenderem as modificações que estão ocorrendo nos seus corpos, podem até saber o sexo do filho que esperam, marcam o dia e hora para o parto (geralmente uma cesariana)... E as crianças de proveta, então? Dizem até que já há possibilidade de se escolher o sexo da criança! E pensar que antigamente as crianças costumavam chegar a qualquer hora do dia ou da noite!
Mas, ao mesmo tempo, os jornais e a TV mostram que mesmo numa grande cidade ainda há muito daquilo que vi na primeira metade do século XX. E nas outras partes do país? O progresso certamente vai chegando de modo desigual e os bolsões de ignorância, de atraso, persistem em maior ou menor escala.
Na atualidade, muitas mulheres, tal como aconteceu comigo na primeira metade deste século, estão vivenciando a mesma problemática.Com ou sem Dr. Langgaard, estão ajudando a criançada vir ao mundo. Oxalá elas possam, no futuro, sentir a alegria que desfruto agora.
Sinto-me feliz por ter encontrado pessoas maravilhosas que me estimularam a estudar e a libertar-me de crendices. Dando-me essa oportunidade, consegui melhorar a vida de muita gente e, por que não, a minha também!

sábado, 26 de julho de 2008

MEMÓRIAS DE UMA PARTEIRA – parte 3

A notícia do nascimento de uma menina, não raras vezes, era recebida pelos maridos com desprezo e desagrado. E, pior ainda! Culpavam a mulher pelo acontecimento. Era preciso, nesses casos, enfrenta-los e isso eu fazia com firmeza e indignação. Felizmente, tive sorte, nenhum deles ousou desdizer-me. Ah! Que pena! Naquele tempo eu também nada sabia de genética. Como eu gostaria de lhes dizer que os “culpados” eram eles!
Eis alguns casos que mostram bem o estilo de vida de parte da minha clientela e as condições em que viviam.
. Uma noite, num casebre, assistia uma mulher quando ouvi um ronco esquisito. Ora, o marido estava ali bem acordado, a mulher gemendo. De quem seria aquele ronco? Perguntei ao homem que barulho era aquele.
- Não é nada, dona. E' uma porca que costuma dormir em baixo da cama.
Fiquei arrepiada! Calcule se a porca, sentindo o cheiro de sangue, tivesse seu apetite despertado e atacasse a criança!
Com muito jeito consegui que o homem retirasse o animal do quarto embora ele insistisse que a porca era mansa... Como faze-lo compreender o absurdo da situação e os riscos decorrentes dela?
Sempre visitei minhas clientes após o parto. Precisava orientá-las nos cuidados pessoais e do nascituro. Por causa disso assisti 2 situações inusitadas.
Certa vez, não encontrando a paciente em casa, fui informada que ela fora ao rio lavar as roupas que usara na véspera, ocasião do parto. Não foi só isso. Daí a pouco ela estava de volta carregando, na cabeça, uma bacia cheia de roupa lavada...
A outra vez foi quando atendi a esposa de um comerciante. Ele estava viajando. A mulher era jovem, bonita e tinha longas tranças. Estava ansiosa à espera do terceiro filho. Já tinha duas meninas e “estava devendo ao marido um filho homem”. Seu desejo foi satisfeito: o garoto nasceu forte e bonito. A mulher ficou muito, muito feliz! Mal podia esperar o marido chegar!
No dia seguinte encontrei a parturiente sem as tranças. Estimulada pelas cunhadas, mais modernas, aproveitara a ocasião do nascimento do filho homem para cortar suas tranças, tão apreciadas pelo marido.
Passados uns dias resolvi dar uma passada na casa dela. Era na cidade, próxima a minha casa. Com surpresa encontrei a mulher com um lenço na cabeça e as tranças repostas. Com olhar triste e cheia de hematomas contou-me que o marido lhe dera uma surra por ter cortado o cabelo, mesmo ela estando de “resguardo” e de lhe ter dado um filho homem. Como sempre, não podia deixar por menos. Chamei o marido e manifestei toda minha indignação. Disse-lhe coisas que, se ele ainda estiver vivo, não terá esquecido. O homem baixou os olhos e não reagiu.
Mas, não era só tristeza. Havia também situações engraçadas, outras de revolta e também as de solidariedade.
Continua...

terça-feira, 22 de julho de 2008

MEMÓRIAS DE UMA PARTEIRA – parte 2
De inicio planejei mudar-me para uma cidade maior e fazer um curso para o magistério. Meus pais não aprovaram a idéia e se recusaram a me acompanhar. Sem a ajuda deles não poderia estudar e cuidar de quatro crianças ao mesmo tempo.
Outra tentativa: Receber em casa, como pensionistas, algumas professoras recém chegadas à cidade. Assim, eu e as crianças teríamos a possibilidade de ter bons modelos no uso da linguagem para contrabalançar o espanhol falado pelos meus pais. Era, também, um reforço na economia doméstica, embora não suficiente.
O acaso abriu-me um novo caminho, tal como o Dr. Langgaard descrevera. Uma vizinha entrou em trabalho de parto e não havia ninguém para ajudá-la. Foi aí que precisei agir. Tive calma e as lições todas daquele livro maravilhoso vieram à minha mente. Foi um sucesso. Experimentei uma alegria muito grande em participar da chegada de uma criança ao mundo. Dessa vez eu não era a que "dava a luz", mas a que contribuía para que tanto a mãe quanto a criança fossem bem sucedidas.
A notícia saiu da cidade e foi para o campo. As antigas clientes do meu marido, quando engravidavam, passaram a me procurar para garantir a minha presença quando chegasse o grande dia.
Casei-me posteriormente com um farmacêutico. Com ele tive a oportunidade de adquirir novos conhecimentos importantes para minha profissão. Durante muitos anos assisti centenas de mulheres na minha cidade e só deixei de fazê-lo quando, na década de Quarenta, mudei-me para São Paulo. Uma vez na Capital não mais havia razão para uma “curiosa” exercer essa atividade. Só voltei a fazê-lo para assistir minhas filhas quando da chegada de meus netos. Foi uma experiência maravilhosa! Elas confiaram em mim e permitiram que eu fosse a primeira pessoa a tocar naquelas crianças, minha continuidade no mundo!
Há mais de quarenta anos deixei de ser parteira. Agora, quase centenária, lembro com saudade daqueles tempos.
Atendi mulheres de todas as classes sociais e arranjei um sem número de afilhados. Até hoje tenho muitos amigos entre as crianças que "peguei". Muitas vezes, mal chegava de um parto e já tinha algum marido aflito me esperando... Reabastecia minha maleta e lá ia eu...
Não perdi nenhuma paciente ou criança nos 20 anos que exerci essa atividade. É bom lembrar que na época em que fui parteira os antibióticos praticamente não existiam. Eles surgiram no final da 2ª guerra mundial. Até então só dispúnhamos das sulfas que eram de difícil tolerância. O que nos restava era ter muito cuidado com a higiene. Isso não era nada fácil ante tanta ignorância e crendices. Mas era preciso tentar e insistir! Com perseverança consegui difundir muitos conceitos básicos de higiene entre as minhas clientes e seus familiares.
Havia, entretanto, um outro fator que pude observar nas muitas casas que freqüentei e que me aborrecia bastante. Era a posição inferior que a mulher ocupava dentro da família.. Não era uma regra geral, mas bastante freqüente. Vi moças bonitas se casando e rapidamente envelhecendo... Muito trabalho, gravidez seguidas, falta de tempo e incentivo para cuidados pessoais acabavam apagando o sorriso de seus lábios...Muitas delas nunca desfrutaram do companheirismo, elemento essencial na vida a dois. Quantas vezes encontrei parturientes acompanhadas apenas por vizinhas pois o marido aproveitara a ocasião para fazer uma pescaria...
Continua...

segunda-feira, 21 de julho de 2008

MEMÓRIAS DE UMA PARTEIRA - parte 1

MEMÓRIAS DE UMA PARTEIRA - parte 1
Nem sempre a gente escolhe a profissão. Muitas vezes ela nos pega sem nenhuma chance de opção. O mais engraçado é que mesmo nessas circunstâncias podemos nos apaixonar por ela. Foi o que aconteceu comigo.
Filha de imigrantes, nasci e fui criada na zona rural. Não freqüentei escolas porque naqueles tempos achavam que as mulheres não precisavam e não deviam ser letradas. Isso me deixou muito triste. Meu irmão resolveu então me ensinar a ler. Fui, portanto, alfabetizada em espanhol.
Aos dezessete anos encontrei o meu companheiro de vida. Nós éramos muito diferentes. Ele era médico, muito culto e bem mais velho do que eu. Como conciliar tamanha distância cultural? Os apaixonados sempre acham uma saída para esses desafios. Ele se propôs a me ensinar e eu, não tive dúvidas, empenhei-me em aprender. Estava disposta a superar todos os obstáculos, a “ir além”.
Fiquei encantada com esse mundo novo que se abria para mim. Os livros que pouco a pouco iam chegando às minhas mãos, as boas maneiras, o uso adequado das roupas... Ah! Meu Deus! Com um professor tão criativo, tão paciente, aprender, tornou-se para mim uma obsessão. Nosso casamento durou sete anos e nesse espaço de tempo estudei muito e tive quatro filhos.
Quando meu marido percebeu que eu me interessava pela sua profissão começou a me ensinar muita coisa: esterilizar os instrumentos, aplicar injeções, fazer curativos e também noções sobre partos. Pôs nas minhas mãos o livro "Arte obstétrica ou Tratado dos partos "do Dr. Langgaard.
Contou-me que o autor queria que as mulheres tivessem mais informações a respeito do assunto. Quantas vezes elas precisavam socorrer outras nessa situação e, muitas, não tinham a menor idéia de como fazê-lo. O livro tratava do assunto com simplicidade, era bem ilustrado e se destinava às "curiosas" que jogavam com sua experiência e com uma série de crendices. Visava, portanto, orientá-las e ajudá-las no desempenho da tarefa que lhes era imposta.
Encantei-me com a preocupação desse autor e procurei aprender tudo que ele se propusera a ensinar. Mal sabia o quanto seria importante eu ter dominado o conteúdo desse livro!
Quando enviuvei tinha filhos para criar, pais idosos e ninguém para me ajudar. Meu marido amealhara nesses anos um certo patrimônio. Na década de Vinte a situação econômica do mundo não era das melhores. Os inquilinos não pagavam os alugueres e as tentativas para cobrar as dívidas que muitas pessoas tinham com meu marido foram, maiorias das vezes, em vão. Negar dívidas às viúvas era uma prática comum, naqueles tempos, Elas que cuidassem de seus direitos, diziam. Foi o que fiz para surpresa de muitos deles: embarguei partidas de café no porto de Santos, protestei títulos, impedi a tradição de propriedades... Apesar de humilhados por terem sido vencidos por uma mulher, tiveram de me pagar. Assim mesmo, logo as minhas provisões estariam se esgotando. Precisava trabalhar. Mas, se para os homens a busca de trabalho não era fácil, para as mulheres, então, nem é bom pensar!
Continua...

quinta-feira, 17 de julho de 2008

O PODER DE UMA FRUSTRAÇÃO

O PODER DE UMA FRUSTRAÇÃO –parte - 3
- Cristina, Cristina, acorda! Vamos, acorda!
Abriu os olhos ainda chorosos e viu-se diante do marido que, aflito, perguntava:
- É um pesadelo? Ou você está sentindo alguma dor?
Cristina sentou-se na cama e continuou soluçando. O marido, com seus braços, a envolveu ternamente e procurou tranqüilizá-la.
- Foi apenas um pesadelo. Estou bem, disse Cristina com dificuldade sem conseguir parar de chorar.
O pesadelo acabara e toda a problemática nele levantada, não mais existia. O que a angustiava era a insensatez que emergira do seu inconsciente. Para realizar o seu desejo eliminara todos os familiares, até do marido, seu querido companheiro de tantos anos! Como uma simples notícia de jornal pudera, de modo tão radical, acordar uma velha frustração e arquitetar um plano tão absurdo para realizá-lo? Talvez Freud pudesse explicar... Ela, simplesmente, não entendia.
Aninhada nos braços do marido, mais calma, decidiu. Não contaria para ninguém o seu sonho maluco. Seria o seu segredo e, quem sabe, um dia o esqueceria.

segunda-feira, 14 de julho de 2008

O PODER DE UMA FRUSTRAÇÃO – Parte - 2

De repente uma idéia lhe acudiu. Ainda não chegara aos sessenta anos, tinha saúde, boa situação econômica e todos aqueles que criavam obstáculos à realização do seu sonho não mais pertenciam a este mundo... Poderia tentar, pensou. Será que o Brasil teria profissionais nessa especialidade?
Estava decidida. Agiria de acordo com sua vontade. Rapidamente entrou em ação. Informou-se, procurou especialistas, fez exames e partiu para todos os preparativos. Estava ansiosa. Atingiria seu objetivo?
Finalmente, os sonhos estavam prestes a se realizar. Conseguira engravidar! Aleluia!
Passada a fase de euforia, enquanto a barriga se avolumava, ela começou a analisar a situação. Durante a gravidez teria que enfrentar a curiosidade dos conhecidos e todo tipo de comentários. Quando a criança nascesse teria que executar as tarefas próprias de uma mãe de vinte, trinta ou mais anos... Mas ela teria sessenta... E para criá-la, educá-la? Seria capaz de orientá-la para as exigências do mundo de agora, em mudança constante e de aceleração cada vez mais rápida? Como ela estaria mental e fisicamente quando a criança atingisse a adolescência? Como cada uma veria o mundo? Seriam visões compatíveis?
Mas a indagação mais terrível ela ainda não formulara. E, de repente, isso aconteceu! Quem se encarregaria desse rebento tão desejado se a mãe temporã falecesse? Sendo viúva, sem outros familiares, a quem caberia cuidar dessa criança, produto de sua obsessão? Depois dessas reflexões chegara a conclusão de quanto havia sido egoísta, egocêntrica mesmo! Só pensara em satisfazer o seu desejo, nada mais! E desatou num pranto convulsivo.
Continua...

quinta-feira, 10 de julho de 2008

O PODER DE UMA FRUSTRAÇÃO - Parte - 1

Cristina leu o artigo no jornal e ficou pensativa. Como a ciência evoluíra! Passou em revista a sua vida. Como filha única tivera uma infância solitária. Viver, crescer entre adultos tinha sido bom, não podia negar, mas com outras crianças certamente teria sido muito melhor. Quando casasse gostaria de ter muitos filhos. Sonhava com isso.
Aos 20 anos encontrara aquele que seria o seu companheiro de vida. Apaixonados logo se casaram. O tempo passou e para decepção do casal a gravidez não acontecia. Todas as tentativas de tratamento foram em vão. Os especialistas não diagnosticavam nada de anormal no casal, mas...
Quando surgiu a possibilidade do bebê de proveta ela ficou entusiasmada. Estava ali a sua grande chance e não queria perdê-la. Agora se contentaria com um filho só. Consultou o marido. Ele não concordou, pois achava que as técnicas eram ainda muito recentes e o risco era muito grande. Todos os argumentos dela não o convenceram. Gostaria de ter filhos, dizia ele, mas sem correr o risco de perder a mulher.
Acenou, então, com a possibilidade de adotarem uma, duas crianças... Também não teve o apoio dele e nem dos familiares. Alegavam que ainda eram moços e, quando menos se esperasse, a gravidez aconteceria. E o tempo foi passando...
Ela continuou acompanhando todo progresso científico nesse setor. O marido continuava firme na sua posição e ela foi perdendo a esperança. Com a chegada da menopausa, acabou sepultando sua frustração. Não pudera ser mãe e também não seria avó...
Agora essa notícia no jornal: “Mulher italiana engravida aos 60 anos!” Por mais que tentasse se livrar de pensar no assunto, não conseguia. E os dias foram passando...
Continua....

terça-feira, 8 de julho de 2008

Cuidado com as ONGS

Nasci, estudei e lecionei no interior paulista e pude constatar a dificuldade em ler livros de minha predileção. Muita gente do interior não lê porque não encontra livros de sua preferência e não é por desinteresse. São poucas as escolas e bibliotecas públicas que têm um acervo significativo, os livros,via de regra, são caros e as livrarias com grande variedade de temas são raras.
Agora, como professora aposentada, quis minorar essa situação e contribuir para que o hábito de leitura se desenvolva nessas regiões. Como atingir esse objetivo? Na impossibilidade de faze-lo pessoalmente procurei uma ONG . Depois de muito pesquisar escolhi o Fundo de Solidariedade e Desenvolvimento Social e Cultural do Estado de São Paulo e fiz a seguinte proposta, por carta e por telefone:
Doar, entre outros, 200 livros de minha autoria – “Elas, as pioneiras do Brasil – A memorável saga dessas mulheres” – para Escolas e Bibliotecas Públicas do interior. É uma História do Brasil sob a ótica feminina onde reuni a biografia de 60 mulheres que se destacaram desde o descobrimento até nossos dias. Através desse enfoque pude mostrar a luta do gênero para alargar seu espaço deixar de ser uma a cidadã de segunda classe.
Fiquei decepcionada quando recebi o agradecimento de uma Creche da cidade de São Paulo pela minha doação de 177 livros – Elas , as pioneiras do Brasil. Gentilmente me contaram como fariam a distribuição deles, isto é, para particulares. Ora livro doado sem auscultar a preferência presenteado é um candidato a ser esquecido numa estante ou então ir parar num SEBO. Nas Escolas e Bibliotecas isso não acontecerá pois estará sempre a disposição de muitas pessoas sem qualquer ônus para elas. Se a ONG tivesse doado todos exemplares do livro infantil “Pois é!!! Cada um na sua...”, também da minha autoria, para a Creche, mesmo não sendo do interior paulista, eu ficaria contente pois estaria contribuindo para que o habito de leitura fosse trabalhado.
Em suma, como professora aposentada, com baixo salário, em sã consciência, não doaria livros no valor de RS$7.000,00 (sete mil reais) para serem distribuídos aleatoriamente, sem qualquer critério. Fizeram gentileza com chapéu alheio! Será que, pelo menos, os 23 livros restantes foram parar em alguma escola ou biblioteca publica do interior paulista?

sexta-feira, 4 de julho de 2008

Parte 3
Certamente as jovens estão inseguras. Isto acontece nas formaturas, mas é porque esperaram demasiado da escola. Ninguém pode ter a pretensão de sair de um curso pronta e acabada como Minerva da cabeça de Júpiter. A escola fornece muitos elementos, mas apenas como ponto de partida. Eles devem ser trabalhados, ampliados, reformulados e, em alguns casos, substituídos. Dai a importância de uma educação permanente.
As jovens foram iniciadas no plano técnico, científico e filosófico. Mais do que encher suas cabeças de informações, a escola se preocupou em fazê-las pensar. Convidou-as a examinarem suas próprias vidas para que descobrissem quais os propósitos que as guiavam na existência, o que apreciavam acima de tudo, qual o conhecimento que consideravam mais valiosos e assim por diante. Desta auto-análise emergiria a filosofia de vida de cada uma. Salientou ainda que sem uma filosofia da educação as educadoras seriam superficiais e como tais poderiam ser boas ou más. Segundo G. Kneller: “se forem boas, serão piores do que poderiam ser e, se forem más, piores do que precisavam ser”.
Oxalá todas essas considerações estejam povoando essas jovens cabeças. Só assim descobrirão que o magistério é compensador, pois permite que participemos, milhares de vezes, da mais bela das tarefas: acompanhar o desabrochar de uma criança!

quarta-feira, 2 de julho de 2008

REFLEXÕES DE UMA PROFESSORA NUMA FESTA DE FORMATURA

Parte 2
As jovens conhecem bem esses elementos e sabem que eles apenas garantem a autoridade da liderança, mas que não contribuem, em nada, para diminuir as tensões que podem estar latentes ou em ato nas relações professor - aluno. Viveram essa situação em todos os seus anos de escolaridade. Essa liderança só é real quando o professor tem prestígio, essa irradiação insubstituível da personalidade, que tão bem equaciona competência, calor humano, capacidade de dar a cada um o que é seu, otimismo, espírito aberto, bom humor e o dom de manter a distância social necessária entre professor e aluno, naquele ponto ótimo que não dá azo ao favoritismo. Decorre, em certos casos, de um verdadeiro magnetismo pessoal que faz lembrar a velha noção teológica de carisma usada por Max Weber.
Sem um certo prestígio os professores se tornam impopulares e as matéria que lecionam deixam de ser atraentes. Diz Robert Ellis: “Um ministro agreste, de temperamento desabrido, breve se acharia pregando a bancos vazios; médicos e advogados desse tipo constrangeriam os clientes a procurar outros profissionais mais agradáveis; mas as leis de freqüência escolar compulsória e dos cargos efetivos, bem como a tradição habilitam o professor impopular a permanecer, ano após ano, formando novas levas de inimigos.”
Será fácil manter acesa essa chama e equacionar todos esses elementos? Não. Há uma série de desvantagens.
A escolha do magistério como profissão corresponde a um voto de pobreza. O remédio é dobrar a jornada de trabalho e, portanto, dispor de poucas oportunidades de atualização e lazer. A presença do mau aluno é um entrave para aqueles professores que ainda não resolveram enfrentar o problema objetivamente. Como? Tentando recuperá-lo e, para tanto, deve começar por uma auto-análise. A razão da indiferença do aluno pode estar no próprio professor...
Continua...

segunda-feira, 30 de junho de 2008

REFLEXÕES DE UMA PROFESSORA NUMA FESTA DE FORMATURA

REFLEXÕES DE UMA PROFESSORA NUMA FESTA DE FORMATURA - Parte 1
Esta é uma cerimônia de investidura. Jovens alunas recebem o título de professoras! Com isto há uma total reviravolta nos papéis sociais até então desempenhados por elas. Continuarão operando dentro de uma escola mas como representantes de um sistema de normas educacionais preestabelecidas que devem ser impostas aos alunos.
Todas elas estão cônscias dessa dupla corrente de sociabilidade: a que envolve o ajustamento do imaturo aos padrões do adulto e a que exprime as suas próprias necessidades e tendências. Diz Antônio Cândido “que na confluência de ambas situa-se a prática pedagógica, tanto mais satisfatória quanto melhor conseguir atenuar a tensão das duas correntes. Esta pode ser latente, limitando-se à concorrência normal dos grupos de idade e pode ser conflitual, levando ao desenvolvimento de atitudes e normas socialmente reprovadas. É o caso de grupos de delinqüência infantil e juvenil. Num sentido e noutro influem, é claro, as condições do meio”.
O professor terá, nesse contexto, sua dose de responsabilidade. Ele é um líder cuja autoridade se baseia em três elementos essenciais: idade, status e força. O primeiro, a idade, tem aqui um significado social que transcende o nível biológico. Embora jovem, a professora é portadora de uma bagagem cultural que a coloca acima dos alunos investindo-a da capacidade de coagi-los. Quanto mais for reconhecido o status da professora nos grupos de origem do aluno, maior será a sua ascendência sobre o educando. O último elemento, a força, completa o tipo de dominação magisterial, uma vez que tem meios de repreender e punir seus alunos.
Continua...

sábado, 28 de junho de 2008

Um caso inusitado

Parte 3
Em seguida, dirigindo-se ao casal idoso, perguntou:
- E vocês, estão comemorando as bodas de ouro?
- Nada disso! Estamos juntos há pouco tempo embora nos conhecêssemos de longa data. Nossos filhos se casaram e nós ficamos viúvos. O interessante é que ela é mãe de minha nora e isso permitiu que nos encontrássemos mais vezes. Finalmente resolvemos viver juntos e sem casamento.
- E os filhos, como reagiram diante desse fato?
- Ora, seus velhos estavam bem acompanhados e felizes e, portanto, uma preocupação a menos. Quanto a nossa decisão de nos unirmos sem casamento, sejamos práticos e sem preconceitos. Profissionalmente viajei por todo Brasil e. nessas andanças, conheci lugares maravilhosos. Resolvi então mostrá-los à minha companheira. Ai está a razão de optarmos por viver juntos e sem casamento. Como viúvos recebemos pensões e com o casamento elas cessariam. Com as duas e mais nossas aposentadorias estamos tendo oportunidade de fazer passeios como este. Ficamos encantados com tudo que vimos e com a troca de informações. Com elas planejaremos novos roteiros e oxalá neles encontremos parceiros como vocês.
Todos estavam surpresos com essa resposta tão direta e afinada com os costumes atuais. Não havia o que comentar. No dia seguinte cada casal viajaria para suas cidades mas, certamente, não esqueceriam desse caso de velhice bem resolvida.
Pois é, mais vale ser jovem aos 70 anos do que velho aos 40!

quinta-feira, 26 de junho de 2008

Um caso inusitado

E a excursão prosseguia. Passaram por Salvador e admiraram o maior conjunto arquitetônico colonial da América Latina. Visitaram igrejas, conheceram o barroco dos séculos XVI e XVII e a culinária local com toda sua história. Estava aí a oportunidade do casal mineiro falar de suas riquezas, do conjunto de obras do Aleijadinho, do movimento da independência. e de seu trágico desfecho, de Ouro Preto e das diferentes histórias sobre Chica da Silva e Bárbara Heliodora.
Mais uma etapa da excursão: Recife e Olinda. Além das belezas naturais havia muita coisa para ser lembrada. A presença dos holandeses e a luta para expulsá-los, os usos e costumes da região foram objeto de conversas que pareciam não mais ter fim. Os que conheciam as obras de Gilberto Freyre se estenderam comentando os usos e costumes do Brasil colonial. E nossas ilhas atlânticas? Em Fernando de Noronha o grupo não falou. O cenário era para ser contemplado!
Em Fortaleza, ponto final dessa maravilhosa viagem, o grupo permaneceu silencioso se encantando com o pôr do sol que deixava no mar uma estrada de fogo. Era um espetáculo inolvidável! Só quando a noite chegou eles romperam o silêncio e, pela primeira vez, o assunto era pessoal: por que cada um fizera essa viagem.
O casal mais jovem foi o primeiro a falar:
- De início pretendíamos fazer uma viagem pré-nupcial. Estamos juntos há. um certo tempo e, agora, decidimos nos casar. Mas, como historiadores, tivemos a oportunidade de conhecer melhor o Brasil e confrontar com o que sempre vimos através de livros. A companhia de vocês alargou, e muito, os nossos conhecimentos. Todos os problemas apresentados foram discutidos sob ângulos diferentes e isso nos permitiu dar um novo enfoque ao nosso trabalho.
- É interessante verificar que também foi o casamento a razão de nossa viagem adiantou-se o casal de Minas Gerais. Quisemos rever, depois de 25 anos, os lugares onde passamos nossa lua de mel. Naquela ocasião, como era de se esperar, não vimos nada do que esta viagem nos proporcionou. Além de sentimental, esta foi uma experiência enriquecedora.

terça-feira, 24 de junho de 2008

Um caso inusitado - parte 1

Nas viagens de turismo os grupos se formam naturalmente, de acordo com as afinidades.
Numa excursão pelo nordeste brasileiro, três casais se entrosaram tão bem que, nas mais variadas situações, se destacavam pelo entusiasmo, curiosidade, troca de informações e também pelo espírito de aventura. A primeira vista, o que mais chamava atenção era a disparidade de idade desse grupo. Havia um casal jovem, um de meia idade e, por último, o de mais de 70 anos.
Qual seria o tema de tão freqüentes e animadas conversas?
Encantados com as belezas do Brasil, tanto as construídas pelo tempo como por aquelas feitas pelo homem, simultaneamente, absorviam as novidades que encontravam como também faziam ligações com as que já conheciam.
Enquanto percorriam as costas do descobrimento, em Porto Seguro, Troncoso e outros núcleos urbanos, teciam comentários sobre os cinco séculos de história e cultura dessa região. A Mata Atlântica certamente foi objeto de troca de informações. O casal mais jovem, oriundo do sudeste, reportou-se a das reservas entre São Paulo e Paraná dando destaque as riquezas da flora e fauna nelas existente. Conseqüentemente veio a baila o problema da preservação desses locais como também a situação das comunidades indígenas da região.
O casal mais velho, de Mato Grosso, ressaltou a pujança do complexo de áreas protegidas do Pantanal e sua biodiversidade. As informações se multiplicavam. E as Cataratas do Iguaçu, no Paraná? Foi lembrado, pelos jovens, o empenho de Santos Dumont em transformar o local num bem para todos e não apenas o de um particular.
Continua...

Um novo jeito de ler!

“O microscópio e o telescópio são extensões de nossa visão; o telefone é a extensão de nossa voz; em seguida, temos o arado e a espada, extensões do nosso braço. O livro, porém, é outra coisa: o livro é uma extensão de nossa memória e nossa imaginação. “
Jorge Luiz Borges
Ler é um ato mágico que nos faz pensar e experimentar as mais diversas emoções. Por que será que muitas pessoas não desfrutam desse prazer? Desinteresse ou falta de tempo?
Desinteresse? Ora, basta que investiguem suas preferências que certamente o interesse virá a tona. Não há pessoa que não goste de coisa alguma: aventura, mistério, romance, história, poesia... E hoje existem tantos recursos para descobrir o que o entusiasmará, a querer conhecer mais e mais... A leitura será, então, a sua aliada. A Internet está ai com os mais variados temas para instigá-lo a pesquisar.
Falta de tempo? Esperar uma folga, as férias para ler? Não se precisa de tanto tempo para cultivar o hábito de ler. Há contos, poesias, crônicas, historias, textos curtos que podem ser lidos num pequeno intervalo. E, no fim de semana, você descobrirá que muitas coisas novas passaram a motivá-lo a conhecer mais e se dispor a ler algo mais extenso.
Aqui você encontrará pequenos contos e crônicas disponíveis e se gostar do estilo, arrisque ler os meus livros. Os dois podem ser lidos em doses homeopáticas pois são apresentados com textos curtos, independentes, que podem ser lidos um ou dois por vez. Experimente!