segunda-feira, 8 de setembro de 2008

Excertos do livro Elas, as pioneiras do Brasil - parte 1

Critérios para a escolha de “quem é quem”

“Não se nasce mulher: torna-se mulher.”
Simone Beauvoir

Este livro não é um dicionário e, portanto, não pretende tentar escrever sobre o maior número de mulheres que se destacaram na História do Brasil. Também não é um livro para especialistas e sim para o grande público. Pretendo destacar sessenta mulheres, das mais variadas atividades e mostrar como se tornaram pioneiras nas suas especialidades. Para que isso acontecesse tiveram de lutar muito, enfrentar preconceitos e abrir caminhos para outras gerações. Compreenderam que sendo a metade da população, não podiam ficar à margem dos acontecimentos. Elas precisavam ampliar seus espaços, defender seus direitos e derrubar preconceitos. Perceberam que chegara a hora de darem um basta à atitude discriminatória de que eram vítimas e não mais continuarem cúmplices desse status quo.
E muitas se dispuseram a essa empreitada!
Na fase colonial, tão reprimidas, sem escolas, analfabetas, poucas puderam tentar levantar a voz. Assim mesmo, elas participaram do desenrolar de nossa história, embora pouco se tenha registrado sobre seus feitos. Foi uma ação eficaz, mas silenciosa.
No período imperial a situação começou timidamente a mudar com a liberação legal de freqüentar escolas. O advento da imprensa no país lhes deu a oportunidade de começarem a expressar suas idéias, embora com muitas restrições. As escritoras e poetas gradativamente foram invadindo setores antes redutos masculinos e opinaram sobre questões políticas e sociais. Tornaram-se professoras e no final do século XIX conseguiram educação de nível superior, apesar da resistência masculina.
No período republicano seu campo de ação alargou-se: médicas, advogadas, aviadoras, pianistas, pesquisadoras ao lado do crescente número
de escritoras e poetas. Ganharam o direito ao voto, passaram a advogar mais direitos...
Como selecioná-las para fazerem parte deste livro? Era necessário estabelecer critérios para escolher as sessenta. Gradativamente, eles foram surgindo:

Apenas as pioneiras que não mais estão entre nós;
As que, por sua especialidade, não são conhecidas pelo público, como acontece com as pesquisadoras;
As que, muito atuantes em outras épocas, tendo contribuído significativamente para o desenvolvimento do Brasil, abrindo caminho para a participação de outras mulheres, são hoje nomes de ruas, praças, escolas, hospitais, embora a maioria das pessoas não saiba o que elas fizeram para receber essa homenagem;
Aquelas que têm os acontecimentos de suas vidas misturados com lendas, suas histórias são oferecidas ao público de maneira distorcida ou são localizadas num só espaço de tempo em detrimento de sua real personalidade;
Há também aquelas que serviram de tema a teses de mestrado ou doutorado e acabaram tendo suas biografias publicadas em livros destinados a especialistas e, muitas vezes, fora do alcance do público em geral.
Isto posto, nova dificuldade. Ainda eram tantas que não caberiam no número estipulado, isto é, sessenta!
Quais, então, deveriam ser excluídas?
As que, embora falecidas, continuavam na lembrança do grande publico. As escritoras, especialmente, escreviam em jornais, participavam de bienais, eram entrevistadas e, portanto, ainda estavam em evidência. Delas se dispunha de mais elementos para elaborar uma biografia, mas deviam ser descartadas. Já existem dicionários arrolando um grande número delas;
Como decidir quando havia diversas personalidades, da mesma especialidade, igualmente interessantes? Nesse caso, o jeito foi optar por uma ou duas, aleatoriamente.
Bem, a decisão já foi tomada. Infelizmente, algumas ficaram à margem. O papel deste livro é, de certo modo, o de uma ficha remissiva, isto é, mostrar ao leitor o pioneirismo dessas mulheres e despertar nele o interesse em conhecê-las melhor. A bibliografia apresentada é pista para tanto.

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