quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

Ah! O amor...

AH! O AMOR…

Graças a Internet as três se acharam depois de mais de quarenta anos de separação. Nos tempos do ginásio elas estavam sempre juntas: no estudo, nas domingueiras, no “footing” e também nas paqueras. Depois, no colegial, elas se separaram. Cada uma foi para uma cidade do interior onde funcionavam os primeiros cursos desse nível. De início, a correspondência era freqüente. Depois foram se espaçando cada vez mais até cessarem de uma vez. Qualquer notícia era através de terceiros. Mais tarde, profissionais destacadas, elas apareciam nos noticiários.
Uma delas tomou a iniciativa e resolveu quebrar esse distanciamento. Estava curiosa. Qual seria a reação delas ante a possibilidade de um encontro? Aguardou e, com satisfação, recebeu a confirmação : as duas também desejavam o encontro.
Agora estavam as três novamente juntas. Com muita alegria elas se olharam e fizeram uma rápida a avaliação do que o tempo havia feito nelas. As sessentonas estavam ótimas. O tempo não quebrara aquele espírito jovial dos anos quarenta.
Chegara a hora de colocarem uma para as outras os fatos mais significativos de suas vidas. Teriam eles ligação com as aspirações da juventude? Foram felizes?
Sofia foi a primeira a falar. Médica bem sucedida tivera a oportunidade de realizar cursos no exterior, doutorar-se e ser livre docente. Passara por três casamentos e, no momento, estava livre. Tivera três filhos, cada um de uma união.
Vera também divorciada, não se casara novamente. Como jornalista viajara muito. Entrevistara pessoas famosas, freqüentava lugares sofisticados e, como sempre, continava muito independente.

Helena estava casada há mais de 30 anos e sentia-se feliz. Também fizera carreira como advogada juntamente com o marido, embora em especialidades diferentes. Tinha filhos e netos.
Depois dessa primeira troca de informações, veio a primeira pergunta: E no amor, como elas se realizaram?
- Pois é, sem conhecer as idéias de Alvin Toffler, optei por casamentos temporários, falou Sofia. Em todos eles fui feliz enquanto duraram. Talvez, pelo estilo de vida que optei, chegava um ponto em que as relações se esgotavam, os interesses divergiam e os objetivos de cada um apontavam para caminhos diferentes. Sem amargura, vinha a separação. A amizade e a solidariedade em nenhum dos casos deixaram de existir. Sempre encontrei alguém, na hora certa, que tinha as mesmas aspirações que me impulsionavam no momento. Não afasto a possibilidade de partir para um outro casamento. Meus filhos se dão muito bem com as novas famílias que seus pais constituiram. Minha carreira não sofreu nenhum percalço. Sempre pude me dedicar a ela de um modo pleno. Em suma, estou feliz!
- Três casamentos e ainda pensa em partir para um outro? Que coragem! Para mim, um só foi o bastante. Foi um casamento turbulento. Havia mais competição do que colaboração. O meu trabalho era fonte de constantes atritos e ele sempre o substimava. Gradativamente fomos percebendo que nossos objetivos jamais seriam os mesmos. Assim a solidariedade, a amizade, a ternura foram desaparecendo. Não sobrou nada desse relacionamento. Dediquei-me a minha profissão e sou feliz,a minha moda. E você Helena? Como é que segurou seu casamento por tanto tempo?
-Não há nada especial nele. Casei-me pensando que a felicidade a gente faz. Numa sociedade em que tudo muda com uma rapidez assustadora, buscamos nos ajustar as novas situações, sopesando bem cada passo, de comum acordo, sem competição, sem imposição. Isto não significa que pensemos de um modo igual. Divergimos em muitas coisas, mas não no essencial. Temos a mesma profissão, trocamos idéias, fazemos ponderações a respeito do trabalho do outro, mas cada um faz o que lhe parece melhor. Não estamos preocupados com o “desenvolvimento paralelo” que tantos psicólogos e conselheiros matrimoniais alardeiam como condição “sine qua non” para o casamento ter sucesso. Apenas resolvemos caminhar juntos, renovando cada dia aquele encantamento que há tantos anos nos levou ao altar.
A conversa continuou animada. Cada uma resolvera a sua vida amorosa de maneira diferente. O amor é assim mesmo. É um sentimento tão complexo que cada um o realiza a seu modo.
Não dá para julgar.

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